E se por essa blogoesfera vou encontrando pessoas que me parecem fabulosas, a Mãe Preocupada é uma delas!
Tem textos que eu admiro e não são poucas as vezes que vão de encontro ao meu pensamento, bem como não são poucas as horas que perco na leitura das suas palavras, sempre tão certeiras em relação a certas pequenas coisas que nos rodeiam e que me deixam sempre a pensar.
Um deles é precisamente este:
"Universo feminino
Ouvi esta manhã na rádio que foi publicado mais um desses livros sobre o amor e o universo feminino, que as mulheres gostam de levar para a banheira enquanto comem bombons. Mais uma trama de choraminguices e conflitos matrimoniais que as autoras (que são sempre mulheres) gostam sempre de qualificar como uma janela para o universo feminino. Chafurdam no universo feminino com propriedade e conhecimento de causa, qualificam-no como cheio de inconstâncias, inseguranças, sensibilidades, contradições, alguns caprichos, mas pleno de generosidade e abundante em amor. Não sei que amostra tem estas autoras à disposição para tanto alvitrar sobre mulheres, a natureza das mulheres. Ninguém escreve sobre a Júlia, que durante cinco anos vinha duas vezes por semana a minha casa passar-me a roupa a ferro, depois de andar o dia todo a acartar aglomerados de madeira às costas numa fábrica, como bicho homem que fosse. Quando regressava a casa, aturava um marido instável e suspeito e um filho adolescente cheio de perturbações sem diagnóstico certo. A Júlia era mais nova do que eu, mas tinha envelhecido à força de acartar aglomerados e de enfrentar os insultos de puta para baixo com que a sogra lhe desejava bom dia todas as manhãs. Era mãe desde os dezoito anos e trabalhadora desde muito antes disso. Era tão fina, tão elegante, tão doce. Mas estava gasta. Tinha mossas em todo o lado, lombalgias permanentes, nódoas negras nos braços, um desespero conformado, uma angústia moente, uma ausência de brilho. Mas o pior nem era isso, o pior não era o presente. O pior é que não havia outro amanhã para a Júlia que não fosse igual a hoje. Júlia não tinha esperança, como não tinha ajuda. Essa mulher não faz parte do universo feminino, pois não. Não tem dinheiro para ir fazer psicoterapia nem tempo para se sentar no salão de chá a chorar mágoas e abandonos com as amigas. Por isso ninguém sabe, ninguém vê. Não consta, não existe. Ninguém escreve livros sobre o universo feminino com personagens como a Júlia, porque universo feminino, em linguagem vendável, é essa mariquice de relacionamentos a que gostam de chamar amor, essa catadupa de divórcios, desencontros e coisas mal resolvidas, e as palavras que não disse e mais a carta que não te escrevi e se soubesses como eu gosto de ti e a nossa noite em Paris e eu com o teu pólo da Gant. Universo feminino, em linguagem vendável, é qualquer coisa entre a ociosidade e a histeria, descrevendo uma órbita em torno da figura masculina. Se esta falha, é um buraco negro. O universo feminino que estas autoras conhecem tem unhas pintadas e arranjadas, ridículos atritos matrimoniais, inseguranças acesas pelo facto de ninguém ter atentado num novo corte de cabelo e um stress medonho por causa das compras de natal. Mas, graças a deus, há um bom livro sobre amores frustrados sempre à mão, na mesinha de cabeceira.
Na rádio, a autora do livro terminou a entrevista afirmando, cheia de propriedade e entendimento, como mulher madura e vivida que fosse: o amor não é uma coisa absoluta. Está enganada. O amor é uma coisa absoluta, obviamente que é. Os relacionamentos é que não. Mas, no universo feminino, parece que não se distingue muito bem as duas coisas. Digo eu, que não percebo nada de mulheres."
Na rádio, a autora do livro terminou a entrevista afirmando, cheia de propriedade e entendimento, como mulher madura e vivida que fosse: o amor não é uma coisa absoluta. Está enganada. O amor é uma coisa absoluta, obviamente que é. Os relacionamentos é que não. Mas, no universo feminino, parece que não se distingue muito bem as duas coisas. Digo eu, que não percebo nada de mulheres."
E é verdade que eu não conseguiria passar para palavras, da forma como foi feito, exactamente o que penso!
É que, as Grandes Mulheres que nos rodeiam, não são aquelas que se vestem melhor, que têm a melhor mala ou as unhas impecáveis... Muitas das vezes é precisamente aquela senhora que está à nossa frente na caixa de um qualquer supermercado, com cabelos brancos, um tanto ou quanto desgrenhados e com rugas que contam histórias de muitas batalhas travadas pela vida fora, que nós desconhecemos e desvalorizamos porque sempre tivemos tudo como dados adquiridos.
Lux
É que, as Grandes Mulheres que nos rodeiam, não são aquelas que se vestem melhor, que têm a melhor mala ou as unhas impecáveis... Muitas das vezes é precisamente aquela senhora que está à nossa frente na caixa de um qualquer supermercado, com cabelos brancos, um tanto ou quanto desgrenhados e com rugas que contam histórias de muitas batalhas travadas pela vida fora, que nós desconhecemos e desvalorizamos porque sempre tivemos tudo como dados adquiridos.
Lux
6 comentários:
Adorei este texto!! E sim, as verdadeiras Grandes Mulheres, andam escondidas...
Muito bom, brilhante! Adorei.
Adoro o blogue em causa. A Mãe Precupada é dotada de um incrível dom para a escrita... e este post é só mais um exemplo disso mesmo.
Sábias palavras.
Vivencias....gosto!
Maria
www.facebook.com/sexynacidade
Querida Lux, fantástico este texto e tão verdadeiro!
Não conhecia esta Mãe, mas vou já ter com ela! Obrigada pela partilha.
Beijinhos.
Querida Lux é com muito prazer que visito este blogzinho, quase todos os dias. Bons Posts boas palavras ;) . Super agradavel, o maior sucesso para este blog *
Cor de Rosa Choque
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